Julia
2011Com a montagem de Julia inicia-se uma nova trilogia, que parte de textos clássicos para a construção dramatúrgica e investiga a integração do teatro e do cinema em cena. Nos trabalhos anteriores, a proposição artística era transformar um material que partia da realidade em um material ficcional. A partir de Julia, a questão passa a ser “introjetar” a “realidade” dentro de uma ficção preexistente; nesse caso, o texto Senhorita Julia, de August Strindberg.
Em Julia, o teatro esta integrado ao vivo e as estruturas cinematográficas são expostas. Com cenas pré-filmadas e cenas filmadas ao vivo, o filme é construído na presença do público a cada dia. Os atores fazem um filme e ao mesmo tempo atuam como os personagens da ficção. O cenário é composto por telas de cinema divididas, que se movem durante a ação, revelando partes de um quarto e de uma cozinha, os sets para a filmagem ao vivo. Os projetores acompanham o movimento das telas, criando um filme em movimento. No início da peça, algumas cenas que estão sendo filmadas e projetadas simultaneamente são vistas por entre as frestas dos painéis, por diferentes partes do público, mas conforme a ação avança os painéis escancaram o que estava por trás das telas, em uma analogia direta com o que esta acontecendo com os próprios personagens/atores.
Esse é o primeiro trabalho que integra projeção e câmera à cena. A projeção e a presença do cameraman são profundamente ligadas à construção dramatúrgica. Existem cenas pré-filmadas, que foram feitas em locações reais, e cenas filmadas na hora, projetadas simultaneamente. O filme é montado em tempo real, e como em um set de filmagem, é cortado e refeito algumas vezes, em múltiplos takes, seja através do comando de “ação” e “corta” do cameraman, seja pela relação dos atores, que, ao ficar mais extrema, quebra “a ficção”, gerando novas camadas interpretativas. Assim como as “fraturas” existentes na atuação e no espaço, a tela de cinema também é partida, compondo por vezes uma grande tela de 16:9 e em outras formando duas telas de 4:3, com projeções diferentes e simultâneas. As diversas camadas – espaço, atuação, junção do teatro com o cinema – nas suas sobreposições convergem para criar uma terceira e única zona, com a qual se revelam as estruturas da cena, do cinema e também dos atores/personagens.
Para esse trabalho foi preciso encontrar uma atuação que “coubesse” nos dois meios simultaneamente, sem perder a contenção revelada nas aproximações da câmera e as explosões que “rompem” a tela e inundam o teatro. O tempo real da cena, as partes dos corpos em movimento vazando pelas frestas do cenário, somado à grande tela de cinema que mostra os detalhes provocam uma realidade visceral que vai ao encontro de conceito da montagem, transformando em imagem e ação o conteúdo da peça, que traz o conflito para o Brasil de hoje. Se Strindberg colocou uma lupa na relação de dois seres tão distintos e próximos no século XIX, aqui, através da câmera, a presença e o testemunho permanentes invadem e constroem junto com o público os acontecimentos cênico e fílmico.
Estreou no Espaço Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, em novembro de 2011 e no Sesc Belenzinho, em São Paulo, em outubro de 2012. Vencedor do Prêmio Shell de Melhor Direção em 2012.
Festivais e viagens nacionais e internacionais: Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas/Bélgica), Wiener Festwochen (Viena/Áustria), Zurcher Theaterspektakel (Zurique/Suíça), Noordezon Performing Arts Festival (Grooening/Holanda), Temps d’Image (Le CentQuatre – Paris/França), Festival de Keuze (Roterdã/Holanda), Künstlerhaus Mousonturm (Frankfurt/Alemanha), Festival Temporada Alta (Girona/Espanha), Centro Dramático Nacional (Madri/Espanha), REDCAT (Los Angeles/EUA ), On the Boards (Seattle/EUA ), Teatro Piccolo Arsenale – Bienal de Veneza – Veneza/Itália), Théâtre La Rose des Vents (Lille/França), Teatro Maria Matos (Lisboa/Portugal), Festival Le Batiê (Genebra/Suíça), Festival Um alles in Der Welt – Die Lessingtage – Thalia Theater Gauss (Hamburgo/Alemanha), Bonlieu Scène Nationale (Annecy/França), Le Carré des Jalles (Saint-Médard-en Jalles/França), Théâtre d’Hérouville-Saint-Clair (Caen/França), Espace des Arts Scène Nationale (Chalon-sur-Saône/França), Lieu Unique (Nantes/ França), Espaces pluriels (Pau/França), Teatre Jarazca ‒ Nowa Klasyka Europy Festival (Lodz/Polônia), Centre Nationale Dramatique de Haute-Normandie (Rouen/França), Théâtre Populaire Romand (La Chaux-de-Fonds/Suíça), MITsp Festival Internacional São Paulo (SP/Brasil), Festival Porto Alegre em Cena (RS/ Brasil), FIAC Salvador (BA/Brasil), Festival de Teatro de Recife (PE/Brasil), Festival de Curitiba (PR/Brasil), Galpão Cine-Horto (Belo Horizonte/Brasil).
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“JULIA”, de Christiane Jatahy
Baseado no texto “Senhorita Julia” de August Strindberg
Concepção, Direção e Adaptação CHRISTIANE JATAHY
Com JULIA BERNART e RODRIGO ODÊ
Concepção do Cenário CHRISTIANE JATAHY e MARCELO LIPIANI
Direção de Arte e Cenário MARCELO LIPIANI
Fotografia e Câmera Filme DAVID PACHECO
Câmera ao Vivo PAULO CAMACHO
Desenho de luz RENATO MACHADO e DAVID PACHECO
Figurinos ANGELE FRÓS
Trilha Sonora RODRIGO MARÇAL
Orientação Corporal DANI LIMA
Sistema de Vídeo JULIO PARENTE
Operador de Vídeo FRANCESCA BERSELLI
Operador de Luz e som LEANDRO BARRETO
Diretor de Palco THIAGO KATONA
Participação no Filme TATIANA TIBURCIO
Produção e Tour Manager CLAUDIA MARQUES e HENRIQUE MARIANO
Esse espetáculo está em turnê com CENTQUATRE on the road
Video
Galeria
Datas passadas
- 29 MAR › 01 ABR 2023
- Théâtre de Namur, Belgique
Imprensa
Conflitto di classe alla Biennale Teatro A Venezia uno Strindberg brasiliano
Prêmios e Críticas
“Bela descoberta. Contemporânea e convincente. Dupla revelação por esta Julia brasileira: uma realizadora, Christiane Jatahy, que joga habilmente com os códigos do cinema, do vídeo, do palco e do teatro. E atores que rasgam a tela e existem sobre o palco”.
— Christian Jade – RTBF – Bélgica – Kusntenfestivaldesarts
“Com JULIA, Christiane Jatahy introduz uma nova voz do teatro brasileiro. Julia é teatro inovador com forte impacto cinematográfico. É preciso ver.”
— Le Libre – Kusntenfestivaldesarts – Bélgica
“O público agradeceu esta noite surpreendente, inteligente, intensa e ainda, de alguma forma, alegre, com aplausos gigantes. O tour de force dos artistas – curto, mas intenso – foi um sucesso.”
— Michaela Mottingers- Meinung – Áustria
“Com as suas estruturas transparentes, a peça “Júlia” abre portas e dá início a associações. As vezes acabamos em um loop entre ontem e hoje, 1888 e 2013, entre filme e teatro, o épico do Brecht e o drama de Hollywood, entre Alemanha, Brasil e Suécia. Essa noite de verão brasileira no outono alemão tem um sabor de antropofagia bem convincente, que nos faz querer mais”.
— Nachtkritik.de – Frankfurt – Esther Boldt
“A Companhia Vértice de Teatro também veio ao Festwochen, em 2008 (A falta que nos move). Vale a pena ficar de olho. Sua mistura entre vitalidade, virtuosidade técnica e coragem oferece novas perspectivas à obras antigas.”
— Der Standard – Áustria – Margarete Affenzeller
“A mistura magnífica de sequências de filmes, vídeos ao vivo e cenas clássicas de teatro de Jatahy, faz com que a obra antiquada de Strindberg ganhe uma atualidade esplêndida.”
— Valeria Heintges – Zurich – Theaterspektakel
“Entre as nove peças, a melhor foi a versão contemporânea brasileira de “Senhorita Júlia” de August Strindberg. A jovem atriz Júlia Bernat representa “Júlia” com toda a sua força juvenil e devoção emocional. O público se levanta, ovações de pé, nos Estados Unidos quase normal, em Zurique elogio excepcional. Essa “Júlia” da talentosa diretora Christiane Jatahy mereceu.”
— Aargauer Zeitung – Susanna Petrin – Theaterspektakel
“La versión carioca de Jatahy de la obra de Strindberg concilia la sensualidad del teatro brasileño con el impecable acabado alemán”
— El Pais – Javier Vallejo
“Christiane Jatahy adapta Strindberg à realidade brasileira coerente a sua interessante pesquisa, perturbar a relação entre ator e platéia. Christiane Jatahy faz filmes, e gosta explorar novas fronteiras. “Julia” é o sua primeira peça França. Queremos mais!”
— Jean-Pierre Thibaudat – Festival Temps d’images au 104 – Paris, França
“O grande barato de Julia é justamente o que acontece no meio, entre uma expressão e outra. E isso só é possível quando as duas expressões convivem de verdade. Julia está muito além do uso habitual de projeções em montagens teatrais com vocação multimídia. Nossa atenção e deleite são atraídos por algo que não é bem cinema, nem é bem teatro, mas pontes entre os dois”
— Carlos Alberto Mattos – critico de cinema – Rio de Janeiro
“Um maravilhoso e consistente trabalho de uma diretora em permanente movimento”.
— Macksen Luiz – Rio de Janeiro
“Julia atualiza um texto classic com singularidade e pungência, além de explorar novas possibilidades narrativas no teatro.”
— Luis Fernando Ramos – crítico Folha de São Paulo
“Tout ici est organisé de façon à ce que le spectateur écoute, comprenne, se pose des questions et, d’une certaine manière, se dépasse, dans une démarche de résilience.A ce théâtre, on peut opposer, et, ô combien !, préférer celui de la perturbation proposé par Christiane Jatahy, qui ne cherche pas à réparer les vivants. Au contraire : illes montre cabossés, questionnés, déchirés, à travers un saisissant portrait de femme, inspire par Mademoiselle Julie.Julie. Devenue Julia, la pièce d’August Strindberg (1849-1912) s’inscrit dans le Brésil d’aujourd’hui et nous montre à quel point les traces de l’esclavage imprègnent encore souterrainement la société.”
— Brigitte Salino – Le Monde, 05/09/2014 (France)
“Si elle conserve la situation, si elle suit à peu près la trame, elle se distingue de la pudeur de l’écrivain (la pièce date de1888) et demande aux deux interprètes principaux un engagement physique terrible dans une scène de sexe et dans une scène d’humiliation verbale qui sont paroxistiques”
— Armelie Heliot – Le Figaro, 09/11/2014 (France)
“La mise en scène brouille toutes les frontières, entre l’écran et la scène, entre le social et l’individuel, entre la représentation et l’imprévu. Les états d’âme que les acteurs adressent au public en français, la présence insistante du cadreur et de la régie, un selfie avec le caméraman que Julia poste sur Facebook, produisent un ensemble incertain dans lequel l’événement vraiment imprévu ne dénote pas. (…) La polarité qui organise la pièce, entre séquences enregistrées et jouées, se transforme en conflit ouvert quand l’écran impose son dernier mot alors que Julia avait promis une fin ouverte aux spectateurs.”
— Nicolas Garnier – Ma Culture, 11/07/2014 (France)